A INVISIBILIDADE DA ADOLESCÊNCIA: POR QUE OS PAIS E A SOCIEDADE SE MANTÉM TÃO DISTANTES DOS ADOLESCENTES?

Quanto mais observo os fatos, as famílias, as relações sociais, as notícias mais claro e evidente fica que há algo de muito “estranho” para não dizer errado, com nossa sociedade em geral. Hoje ainda, assisti uma breve entrevista com uma autoridade no tema drogas/drogadição, que é talvez a maior de todas as mazelas do mundo atual, e que, segundo ele tem como alvo principal, justamente os adolescentes. Ele “tentava” falar da importância da prevenção, algo que ainda não faz parte de nossa cultura e “tentava” salientar que a maior e mais eficaz forma de prevenção é, sem dúvida, uma relação sempre muito próxima dos pais, da família com os jovens adolescentes. Digo que ele “tentava” pois sempre era interrompido pelos dois jornalistas entrevistadores. Esse comportamento dos jornalistas, que são ótimos profissionais, me pareceu, mais uma vez, revelar e confirmar, justamente, o que o entrevistado “tentava” abordar sem muito sucesso: a nossa total falta de cultura da PREVENÇÃO e a dificuldade de olhar de frente falar sobre o distanciamento recorrente dos pais em relação a seus filhos adolescentes.

A título de curiosidade, eu escrevi um livro chamado Adolescente Cristal com a intenção de contribuir no sentido de uma maior e melhor compreensão dos pais a respeito dessa fase tão difícil e delicada de seus filhos. Pois esse é exatamente, o livro menos procurado dentre os que eu escrevi. Porque será? Para mim, é mais um forte indicador da INVISIBILIDADE que envolve os adolescentes e suas peculiaridades, fragilidades, desafios que representam às famílias e a sociedade. Perguntamos então, o que é tão difícil que nós não estamos querendo/conseguindo enxergar em relação aos adolescentes? Porque é infinitamente mais fácil prestar atenção nos temas ligados a infância ou a vida adulta? Que estigma carrega esta fase da nossa vida? Que fantasmas os adolescentes carregam em si? Que memórias, sentimentos, emoções, angustias eles ativam em nós? Que conflitos, traumas, inseguranças eles reavivam em nós com sua simples presença? Porque os pais insistem e persistem em se desligar de seus filhos na adolescência deixando-os soltos, sem acompanhamento direto e constante, sem observar suas companhias, sem querer saber sobre o que estão pensando, estudando, sentindo?! Como podem os pais não se darem conta de que seus filhos estão mais irritáveis, mais quietos, sofrendo de insônia, comendo de menos ou demais, andando com pessoas diferentes e de caráter duvidoso, baixando muito de rendimento na escola, isolando-se mais? Isso só acontece na medida em que há um distanciamento significativo e duradouro dos pais em relação a seus filhos.

Eu escuto pais há muitos anos, eles tem muitos receios e preocupações, compreensíveis na sua maioria. No entanto, ouvir dos pais que estão com muito medo da chegada da adolescência dos filhos é algo particularmente impactante, para mim. Percebi nessas declarações dos pais que se trata de um sinal grave e perigoso não apenas para eles, seus filhos, família, mas para toda a nossa sociedade. “Quem não deve, não teme”, diz um ditado popular. Se há temor, então há dívidas e havendo dívidas, há sempre sentimento de culpa se estivermos falando de pais minimamente conscientes. Como sabemos, toda a dívida precisará ser paga, portanto, mais cedo ou mais tarde, enviará a cobrança. No caso dos adolescentes, em geral ela vem através de perguntas que não gostaríamos de ouvir e muito menos, de responder pois costumam nos pedir “a verdade dos fatos, a transparência”, pedem também escuta verdadeira, interesse genuíno, atenção plena, amor incondicional. Já escutei de mães de adolescentes que é muito difícil encarar nos olhos o filho/a filha quando querem saber se já mentiram, ou se já usaram drogas, se já ficaram bêbadas, se já fizeram alguma bobagem na vida. Isso assusta mães e pais, provavelmente porque será necessário lembrar e repassar sua própria adolescência e verdade sobre ela, sobre os sentimentos e emoções envolvidos, sobre as dores e alegrias nem sempre lícitas, sobre consequências e responsabilidades. Mas, isso soa tremendamente difícil para os pais, em geral! PORQUÊ SERÁ?! Talvez, seja porquê os pais sentem o peso da responsabilidade e pensam que só poderão exercê-la bem caso sejam seres humanos perfeitos, infalíveis, com passado irrepreensível…talvez, esses pais também tenham sido criados sem uma escuta e proximidade adequada de seus próprios pais, tendo sido “vítimas” desse processo de “invisibilidade da adolescência” que se instalou em nossa mentalidade/cultura desde há muito tempo…herança que vem vindo de pais para filhos há incontáveis gerações, provavelmente…

Nos perguntamos então, não estaria na hora, de despertarmos e tratarmos de nos dedicar a nos mantermos em estado “desperto”?

O que mais os adolescentes desejam de seus pais não é que sejam perfeitos nem tenham um currículo impecável seja na escola formal ou na escola da vida. O que eles anseiam mesmo é PRESENÇA VERDADEIRA e suficiente de seus pais, olhos nos olhos com disposição para conversar sem medo, sobre tudo na medida da idade, maturidade e necessidades de cada filho adolescente. Eles precisam ouvir as experiências dos pais e saber como estes se sentiram, enfrentaram e o que aprenderam na sua caminhada. Adolescentes querem poder perguntar e sentir que são ouvidos e que existem algumas respostas para suas perguntas, não todas pois a vida também tem seus mistérios e, aprender a conviver com as perguntas será um dos fundamentais aprendizados. Adolescentes desejam poder se rebelar/revoltar/questionar/contestar sem que seus pais se estressem e irritem a ponto de perder o equilíbrio, afinal a rebeldia adolescente faz parte de um exercício típico e necessário para processar ideias, fortalecer valores éticos e morais, internalizar referências e padrões que lhe trarão segurança, confiança em si e na vida. Expor, exemplificar, dar exemplo de como se portar de forma ética, madura, responsável eis o papel dos pais em todas as situações. A rebeldia adolescente pode ser entendida por analogia, com a musculação que fazemos para fortalecer nossos músculos e assim evitar lesões futuras. Trata-se de um exercício natural e importante, não há como fugir, então, pais precisam se preparar para esses embates com seus filhos adolescentes e não fugir deles. Se precisarem de ajuda nessa preparação e para lidar, os pais devem buscar ajuda de boas leituras e de bons profissionais como terapeutas, psicólogos, educadores. Adolescentes necessitam de colo às vezes, pois comportam-se como crianças que ainda são em muitos aspectos mas, precisam de firmes limites e intervenções objetivas e claras em outros momentos onde sentem-se adultos e “donos de si” quando ainda não o são. Adolescentes pedem para ir a uma “balada” ou “rave”( em geral, encontro de jovens com música de baixa qualidade para vender drogas) porque é isso que a maioria deles sente que “deve fazer” para ser uma “pessoa normal” quando na verdade, eles desejam muito(!!!) que os pais intervenham e argumentem com amor e firmeza porque não permitirão que eles vão. Eles até podem protestar mas lá no fundo irão se sentir muito amados e seguros, eles irão se acalmar pois assim tem uma “justificativa” bem plausível para dizer aos colegas/amigos porque não irão. A maioria dos adolescentes, lá no fundo não se sente maduro, pronto e nem com disposição para lidar com esses ambientes das baladas, onde os guris bebem demais, se drogam, berram, ficam fora de si, vomitam, cheiram mal e nada de estimulante acontece. Eles até poderão se rebelar, como eu já disse, isso faz parte de um exercício de seu desenvolvimento, necessário, mas na verdade querem que os pais assumam sua autoridade de forma serena, amorosa e firme, dando-lhes, inclusive, exemplo importante e inspirador de como poderão lidar bem com seus pares e filhos, no futuro.

Adolescentes querem curtir bons e estimulantes momentos com a família mas precisam que essa família queira estar unida e crie esses momentos e oportunidades, desde a infância, aliás. Claro que eles também vão precisar de momentos solitários e só seus, como todos nós precisamos e merecemos, para fazer nossas reflexões, conversar com a gente mesmo, com Deus…mas, é importante que sejam sempre acompanhados de perto, pelos pais e que esses declarem com frequência, seu amor incondicional, sua disposição de escuta e ajuda, a qualquer momento em que o adolescente necessitar. Eles poderão até reclamar disso, mas lembre-se adolescentes são assim mesmo, “diferentes” seres em transformação, são lagartas dentro de seus casulos escuros. No entanto, tenha certeza de que lá dentro, naquele lugar escuro, abafado e apertado eles lhes escutam pais! Não só escutam como precisam escutar e, de preferência, palavras de amor incondicional afirmando que eles vão conseguir, que eles são seres incríveis do jeito que são, que eles são assim pois tem uma missão importante a realizar aqui e que tudo vai dar certo, mas se não der, vocês estarão sempre junto, por perto para apoiar, chorar junto ou dar boas e sonoras risadas, vibrar com cada conquista!

Vamos dizer NÃO à invisibilidade da adolescência!!!

Pense nisso, reflita, compartilhe e vamos nos manter despertos e ativos para co-criar um mundo mais consciente, humano, justo, pacífico e iluminado para todos, incluindo as novas gerações!

Agradeço por sua gentil presença e por sua atenção!!!

Um abraço afetuoso desejando cada vez mais Luz!!!

Ingrid