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Dica de filme: Precisamos falar sobre o Kevin

Ao assistir a esse filme, que bem poderia se chamar “Como criar um psicopata”, temos a sensação forte de que, embora seja um estória ficcional baseada em um livro homônimo, a ficção é cada vez mais representativa da realidade em que vivemos. O filme é forte, pesado, um soco na boca do estômago, para se dizer o mínimo! Entretanto, é um filme muito, muito bom, quero dizer com isso que ele é bem dirigido, por uma mulher irlandesa Linne Ramsay(!) com excelentes atuações dos atores; destaque para a inigualável Tilda Swinton que não por acaso, recebeu prêmio de melhor atriz no European Film Awards e Ezra Miller que faz o papel de Kevin. Além disso, é um filme que possui um cunho pedagógico excelente para toda a nossa sociedade humana, se souber ser visto e encarado dessa forma.

A sensibilidade com a que a diretora consegue transferir para a tela o drama de uma mulher que não possui a fundamental vocação para ser mãe e que, de repente, descobre-se grávida e sente todo o seu mundo e sua felicidade ruir, é impressionante!

A diretora consegue extrair da excelente Tilda, o melhor de seu melhor. Assistimos o passo a passo desse drama principalmente através de um jogo de olhares, uma viagem profunda e determinante desses espelhos da alma humana. Vemos uma mulher-mãe que tenta o tempo todo lidar com a maternidade e quem sabe, encontrar algum prazer e satisfação, um quê de alegria e divertimento mas fracassa continuadamente. Sua raiva e frustração vão crescendo descontroladamente e transformam-se numa arma mortal. Seu filho Kevin, desde o início, é claro, sente e recebe toda essa vibração de raiva e medo, que nada mais são do que reveladores da falta de amor. Kevin revela no olhar exatamente isso: ausência de amor, de afeto e conseqüentemente, de vínculo e de empatia que só se constroem no mundo interno humano, a partir do amor. Seu pai ilustra bem a atitude de um pai que não enxerga nada e que com sua falta de visão vai alimentando o “monstro” sempre apoiando-o e fornecendo-lhe “munição” para suas atitudes cada vez mais, destrutivas.

Aliás, quem for assistir ao filme, observe a seqüencia de cenas em que primeiro a mãe consegue quebrar o braço do filho, quando ainda pequeno, num gesto onde escapa toda a sua raiva e impaciência. Logo depois do atendimento ao filho, em um hospital, o olhar materno revela toda a culpa pelo gesto e a seguir, uma cena marcante, onde pode se dizer que se estabelece o domínio do filho sobre a mãe: o filho chega em casa e quando o pai o vê com uma tala no braço e pergunta como foi, ele “livra” a mãe da responsabilidade em seu discurso e, ao mesmo tempo, olha para ela enquanto o pai o abraça e seu olhar comunica: eu te livrei agora tu me deves!

A partir daí ele começa a manipular explicitamente sua mãe através do medo e da culpa.

O filme mostra, no seu desenrolar, as conseqüências gravíssimas para famílias e sociedade quando criamos um monstro e não detectamos isso a tempo. Pois o menino Kevin acaba por realizar aquilo que a falta de amor da mãe, por um lado, e a cegueira psíquica do pai, por outro, estimularam e permitiram. Ele vai atingir um grupo de pessoas e sua única reação será um sorriso de gozo, de prazer que somente as feras mais terríveis e desprovidas de consciência, poderiam talvez, esboçar.

E, chega-nos num momento de nosso ciclo denominado Final dos Tempos, não por acaso já que estamos a viver numa sociedade psicopatizada, como bem alertou a Dra. Ana Beatriz Barbosa em seu livro Mentes perigosas. Realmente estamos produzindo monstros em quantidade assustadora! Precisamos acordar e agir para prevenir, prevenir é palavra chave, prevenir é a única forma de mudar o futuro para nós e para nossos descendentes!

Assistam o filme e reflitam, busquem a consciência!

Um abraço, Ingrid Cañete